Certezas em tempos de Covid-19
Estou mais perto dos 40 desde há dois dias, de confinamento já levo 28, e nós por cá estamos todos bem. Creio que é o tempo certo para pensar o futuro.
A epidemia do novo coronavírus já mudou a forma como vemos a botoneira do elevador, mas também vai mudar-nos enquanto agentes económicos. A recessão vai ser acentuada e os impactos já se fazem sentir. Quantos de vós estão a laborar em pleno? Quantas encomendas vos foram canceladas? Quantos clientes vos pediram para renegociar contratos? Quantos trabalhadores têm em layoff? E há quantos dias se ocupam a redesenhar o plano de negócios para 2020? É normal estar preocupado — eu sei que estou, mesmo que só pense nisso durante a sesta da pequena selvagem de 2 anos que vive cá em casa.
Enquanto fotógrafo, a minha actividade vive de pessoas. Das que se reúnem em conferências, congressos e reuniões de ciclo ou de administração. Das que precisam de retratos corporativos, em estúdio ou no escritório. Das que fazem vida de comunicar produtos ou criar campanhas publicitárias. Das que se casam, fazem bonitas festas e trocam votos emocionados. Das que produzem revistas, que desenham relatórios e contas, que gerem a comunicação interna, ou que acabaram de perceber que o manual de procedimentos e segurança da fábrica está ilustrado com fotografias a preto e branco numa linha de montagem que já foi vendida para ferro velho. Enquanto durar este dever geral de recolhimento domiciliário e o encerramento de instalações e estabelecimentos, não terei novo negócio. E como eu, milhares.
Hoje é claro que vai passar para 2021 o que foi adiado em Março e Abril, e porventura será em Maio, ou quem sabe mesmo Junho. Hoje é legítimo equacionar se o congresso não pode, perfeitamente, ser bianual. Se vamos voltar a abraçar-nos nos casamentos ou a fazer crowd surfing no meio da pista. Se a forma que encontrámos durante a quarentena para produzir o mesmo resultado não pode, afinal, tornar-se a norma. Se os retratos da equipa são mesmo necessários no próximo semestre. Se o relatório não fica igualmente bonito com fotografias de stock, mesmo que da África do Sul. Estes são tempos de incerteza — mas isso já todos sabemos.
Eu continuarei a trabalhar para entregar-vos as melhores imagens, e para ajudar-vos a concretizar planos e atingir objectivos. No contexto actual, também podem contar comigo para repensar estratégias, redefinir prioridades, apontar ao essencial das vossas necessidades. Sempre com o mesmo empenho, e não duvido que com renovado ânimo. Seja lá quando for, assim que nos deixem sair à rua de novo. Ou que reabra a creche da Vitória, que abrilhantou o mais recente episódio do podcast “Vai Ficar Tudo Bem”, do Expresso (podem ouvir aqui).
Até breve,
JP
Confesso: a minha varanda é perfeita para uma quarentena. Valha-me isso.